sábado, outubro 2

Mártires da fraternidade - Depoimento de três sobreviventes, que hoje são sacerdotes

Pasteur: Somos do Burundi, na África. Eu sou Pasteur. Comigo estão Ildephonse e Marc.
Entrei no seminário aos 13 anos. Era o ano de 1992. Pouco depois no nosso País explodiu a guerra civil. Hutus e tútsis se combatiam.
Também no seminário éramos das duas etnias. Ouvíamos as coisas horríveis que estavam acontecendo no nosso país, mas isso não nos desencorajava. Ajudados pelos nossos formadores e pelo Espírito de Deus, procurávamos viver na unidade e na fraternidade. Líamos o Evangelho e o colocávamos em prática. Assim o Seminário Menor de Buta era um pequeno Paraíso.
No dia 29 de abril de 1997 os rebeldes avançavam na direção de nossa casa. Como nos comportarmos no caso de um ataque? «Juntos», dissemos: «Permaneceremos unidos».
Na manhã seguinte, às 5 horas, invadiram o nosso dormitório. Começaram a atirar por todo o lado, gritando: «Os hutus de um lado e os tútsis de outro!». Não quisemos nos dividir. Continuamos juntos.
 
Ildephonse: Uma bala feriu logo a minha perna direita. Fui parar debaixo da cama. De repente uma grande explosão: lançaram uma granada sobre o grupo. Morreram na hora mais de 30 jovens. Continuaram a atirar entre os mortos e outras balas me atingiram.
No meio desse inferno, os meus amigos morriam, dizendo: «Deus, nosso Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem». Alguns, como Pasteur, começaram a enfaixar as feridas dos outros, sem pensar em si mesmos.
Nunca vou esquecer do que me disse um dos 40 jovens assassinados, NIYONKURU Protais, dois minutos antes de morrer: «Temos que permanecer unidos!». Ainda hoje esta sua frase é para mim um testamento.
7 anos depois revi os rebeldes na paróquia em que fazia uma experiência pastoral. Deus me deu a graça de perdoar aqueles que tinham atirado em nós.

Marc BIGIRINDAVYI: Quando atacaram o seminário, eu estava no edifício dos professores. Escapei da morte só por milagre.
Não era sacerdote, mas professor leigo. No fim do liceu, pedi ao Bispo para me admitir no Seminário Maior, mas no dia em que devia começar, desencadeou-se em mim uma batalha: «Este caminho é elevado demais para mim – eu disse –. Posso ser um bom cristão e servir a Deus também na Universidade».
Assim, comecei a estudar geografia. Felizmente, na universidade encontrei um grupo de cristãos praticantes. Nós nos ajudávamos a viver a Palavra de Deus. Comecei a ir à missa todas as manhãs.
Quando terminei os estudos, o Reitor me chamou ao Seminário de Buta para ensinar geografia.
Eu vivi com aqueles jovens e partilhei a vida do Evangelho com eles. Ver como permaneceram fiéis a Deus, dando a própria vida, fez mudar a minha. Agradeci a Deus por aqueles “mártires da fraternidade” e lhe pedi para fazer também de mim um apóstolo do amor e da unidade.
Naquele ano entrei no Seminário Maior e em julho de 2004 me tornei sacerdote.

Fonte: http://www.sacerdotioggi.org/files/Portoghese.pdf

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